Foi aos 24 anos que Mário Tarouca fundou a empresa que mais tarde veio a ser comprada pela EatTasty. Nesta entrevista, Mário conta-nos como surgiu a Breadfast, o porquê de ter participado no programa de aceleração Tourism Explorers, como é que surgiu a oportunidade de compra pela EatTasty, como é que se adaptaram à nova realidade e como é que vê o ecossistema empreendedor do futuro.


Do problema à solução

Mário conta que, em 2016/2017, já tinha alguns alojamentos locais em Lisboa e que, a certa altura, os seus clientes começaram a pedir-lhe pequenos-almoços. “Inicialmente fiz parcerias com pastelarias, para que os meus hóspedes pudessem lá ir, e depois comecei a procurar soluções, que permitissem entregar diretamente os pequenos-almoços nos apartamentos”, explica. Mário diz que na altura já existia uma ou outra empresa, mas que, por várias razões, não se identificava com nenhuma delas. Foi então que decidiu criar a sua própria solução: a Breadfast. 


Uma lição para a vida

No início, fiz tudo sozinho”, revela o Fundador da Breadfast, atual Head of Growth da EatTasty. “Era eu que preparava os pequenos-almoços, subia e descia as colinas de Lisboa para os ir entregar aos hóspedes, fazia a faturação, etc.”, acrescenta. Mário diz que “foi uma forma incrível de, não só testar o produto, mas também de estar mais próximo dos clientes e ouvir os seus relatos”. “Esta foi, se calhar, a maior lição que retirei daí, isto é, a importância de testar e validar o produto primeiro”, revela. 


Pelo meio, uma paragem pelo Tourism Explorers

Mais tarde convidei uma pessoa para se juntar a mim e participámos os dois no Tourism Explorers”, conta Mário. “Eu já estava no ecossistema de startups, já conhecia a Fábrica há muito tempo, conhecia os programas e, então, fazia todo o sentido, na altura, participar”, explica. “Os insights e aquilo que nós aprendemos foram fundamentais no início da empresa”, diz. 


Uma oportunidade chamada EatTasty

Pelo caminho, a equipa foi crescendo, as vendas também e fomos procurando outros tipos de clientes”, explica Mário. “Começámos por ter um site B2C [Business-to-Consumer], em que qualquer pessoa podia comprar e depois, numa fase a seguir, avançámos para um modelo B2B [Business-to-Business] em que entregávamos os pequenos-almoços em empresas”, acrescenta. Mário diz que “foi assim durante um período de quase dois anos, até que depois surge a oportunidade de a EatTasty comprar a Breadfast”. 


O momento da verdade

Mário diz que Rui Costa, um dos Fundadores da EatTasty, “foi um dos primeiros clientes da Breadfast”, quando entraram para esse modelo B2C. “Na altura não o conhecia, mas, a partir daí, começámos a trocar algumas ideias”, acrescenta. O Fundador da Breadfast, atual Head of Growth da EatTasty, conta que “isto começou a tornar-se mais real”, quando participaram num outro programa de aceleração, em que o “Rui era um dos mentores”. “A seguir a esse processo, começámos, cada vez mais próximos, a ter reuniões, a perceber como é que podíamos vender as coisas uns dos outros, como é que podíamos partilhar estafetas, etc. e chegámos a uma altura em que a compra avançou”, explica.   


Uma adaptação à nova realidade

Como já temos operações em Madrid, começámos a aperceber-nos disto [COVID-19] uma ou duas semanas mais cedo”, diz Mário. “A primeira quinzena de março foi fulcral para nós”, acrescenta. “Começámos logo a alterar procedimentos e a reforçar as medidas de higiene e segurança alimentar”, explica. Para além disso tiveram também de fazer alterações nas zonas de entrega: “se antes estávamos mais concentrados em grandes zonas empresariais, tivemos de nos alargar para zonas mais residenciais”, revela. 


Reajustar a comunicação

O Fundador da Breadfast, atual Head of Growth da EatTasty, conta que também a comunicação teve de ser reajustada: “se o nosso foco e se as pessoas nos conheciam como ‘EatTasty entrega refeições no local de trabalho’, nós tivemos de mudar todo este prisma para ‘entregamos onde quer que tu estejas, mesmo em casa, desde que estejas dentro da nossa área de entregas’”.  


O Impacto nas vendas

Mário revela que sentiram uma quebra muito grande nas vendas “logo nos primeiros dias de confinamento”, mas que “têm vindo a aumentar gradualmente” e que, neste momento, já estão acima do que estavam “a vender em pré-covid”. “Quer dizer que conseguimos reagir dentro do possível”, diz. 


Aumento do número de encomendas

“Tanto em Madrid, como em Lisboa, o que nós nos começámos a aperceber foi que as pessoas estavam a comprar muito mais refeições do que compravam antes”, explica Mário. “A média de refeições por encomenda disparou logo nos dias 12, 13, 14 de março e foi assim até ao final de março/abril, quando começou a estabilizar e agora mantem-se nesse número” acrescenta.  


Solidariedade em tempos de crise

Mário conta que o ‘menu solidário’ (que permite encomendar refeições para entregar a sem-abrigos) surgiu, por acaso, num grupo de WhatsApp e, inicialmente, de forma muito informal. Começaram por fazer uma parceria com a Comunidade Vida e Paz e com a Re-Food, mas, por causa do isolamento social, “estas organizações deixaram de ter voluntários e, por isso, tiveram de fechar portas”, explica. Então, procuraram outra solução e foi assim que acabaram por fazer uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa: “neste momento, estamos a entregar à volta de 150 refeições por dia, em vários pontos de distribuição da Câmara Municipal”, diz. Ao todo, desde o início desta iniciativa, já distribuíram mais de 7.200 packs pelos sem-abrigo de Lisboa. 


O nascimento de um “triângulo dourado”

Mário diz que, sem se aperceberem, criaram aquilo a que chamam de “triângulo dourado”: “por um lado estamos a ajudar os sem-abrigo; por outro, os restaurantes, que também estão a passar por dificuldades e, por último, os próprios estafetas, que, neste momento, estão com menos trabalho do que aquilo que era suposto”.

 

O ecossistema empreendedor do futuro

“Em tempos de chuva, quando está mau tempo, há pessoas que se queixam de que está a chover e há outras que vão para a rua vender guarda-chuvas”. É assim que Mário tenta explicar a sua visão sobre o ecossistema empreendedor do futuro. “Vai ser, sem dúvida, diferente, porque uns se vão adaptar, porque uns vão morrer e esses que, se calhar, morreram vão criar coisas novas”, acrescenta. “É preciso é termos este espírito que é característico do empreendedor, que é a resiliência”, diz. “Eu acredito muito que, em tempos de crise, surgem muitas oportunidades”, conclui. 


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